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Contos Infantis


Pedras vivas da Igreja
 
AUTOR: IR. GABRIELA VICTORIA SILVA TEJADA, EP
 
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As afirmações de João e de Ana reanimaram os aldeães, levando-os a retomar com afinco os respectivos trabalhos. Mas elas também retumbaram nos ouvidos do rei…
Os habitantes do lugarejo, cheios entusiasmo,
viam as paredes da nova igreja se levantarem

Ameados da primavera, todas as famílias daquela pitoresca aldeia alpina se encontravam reunidas junto à capelinha do lugar, tão pequena que mal conseguia abrigar algumas dezenas de pessoas. Na última Semana Santa nascera na alma de seus piedosos aldeães o desejo de substituí-la por uma igreja de tamanho maior, na qual o povoado inteiro pudesse participar da Santa Missa e Nosso Senhor Sacramentado fosse acolhido mais dignamente.

   Naquele dia, o pároco reunira a comunidade para dividir as funções da construção: os homens trabalhariam e assentariam as pedras; os jovens começariam a reunir a madeira necessária para as traves do teto; as donas de casa pintariam e envernizariam portas e janelas, ocupando- se também de conseguir os vidros e vitrais; e as crianças ajudariam no que estivesse a seu alcance, obedecendo a seus respectivos pais.

   Passaram-se os dias e os meses. Os habitantes do lugarejo, cheios entusiasmo, viam as paredes da nova igreja se levantarem e aguardavam, com indizível alegria, sua inauguração.

   Não obstante, a nuvem da provação ia abater-se sobre eles… Decorrido quase um ano desde o início das obras, chegava-lhes uma terrível notícia: o rei emitira um decreto, vetando a edificação de qualquer recinto sagrado.

   A tristeza dominou o povo, que ouvira desconcertado a mensagem do soberano. A energia e o ânimo, que até aquele momento os dominavam, pareciam tê-los abandonado. Ninguém sabia como reacender a tocha do entusiasmo anterior; nem mesmo o pároco encontrava palavras para os consolar…

   Depois de uns minutos de profundo silêncio, levantaram-se as vozes indignadas de Ana e João, os dois vivazes gêmeos, filhos do Sr. Fernando, o catequista:

   — Podem chegar este e muitos outros decretos proibindo construir igrejas, nós, porém, vamos continuar com a nossa!– exclamou João.

   — Este edifício reflete algo que está em nosso interior – completou Ana – Não nos disse o pároco no último domingo que todos somos pedras vivas que compõem a Igreja?

   — Isso mesmo! Pedras vivas! – retrucou João – Podem proibir a construção de igrejas de pedra, mas ninguém poderá nos impedir de continuar construindo e adornando a Igreja que está viva em nós!

   As afirmações daquelas almas inocentes reanimaram o povo e acabaram, também, retumbando nos ouvidos do rei…

   Com a anuência do pároco e confiando na ajuda da Divina Providência, os aldeães decidiram continuar os trabalhos na surdina. As paredes já haviam sido levantadas e o telhado estava quase pronto. Era possível concentrar esforços no acabamento interno, sempre mais discreto. Além disso, a localização do povoado, incrustado nas montanhas e longe dos principais caminhos, permitia-lhes avançar sem chamar a atenção.

   Enquanto os adultos retomavam com afinco suas tarefas, as crianças, cheias de ardor pelas palavras de Ana e João, tomaram sobre si a missão de rezar sem descanso. E foi o que fizeram!

   Os dois gêmeos reuniram os meninos da aldeia e João lhes disse em tom solene:

   — Não aprendemos no catecismo que uma das principais funções dos Anjos é a de ser mensageiros? Nossos Anjos da Guarda têm um poder extraordinário e querem nos ajudar.

   — Só que, para isso – acrescentou Ana –, é preciso que peçamos seu auxílio. Se não o fizermos, eles vão ficar de braços cruzados… Tenho uma ideia!

   A partir de então, João, Ana e os outros pequenos do lugar pediram incansavelmente a seus Anjos da Guarda para repetir nos ouvidos do rei uma frase: “Podem proibir a construção de igrejas de pedra, mas ninguém poderá nos impedir de continuar construindo e adornando a Igreja que está viva em nós!”

Pouco antes de se iniciarem os ritos
sagrados, viram entrar pelo fundo da
igreja a inconfundível figura do rei

   Corria o tempo e o empenho com que eles rezavam dava forças ao povo para continuar a obra. Contudo, as inocentes orações infantis tinham também um efeito invisível sobre os Anjos, que não cessavam um só instante de influenciar o rei…

   Sem ninguém mencionar- lhe o tema, o soberano começou a sentir um doloroso aguilhão na alma… A proibição de construir edificações sagradas que decretara pesava sobre sua consciência, mais do que as pedras necessárias para construir todas as igrejas do reino!

   Foi assim que instigado, sem o perceber, pelas benfazejas vozes angélicas, o monarca se arrependeu profundamente da falta cometida e, como reparação por ela, promulgou um novo decreto revogando o anterior, outorgando, ademais, benefícios e privilégios para quem quisesse construir um novo templo no seu reino.

   A alegria tomou conta dos habitantes da aldeia! Com mais presteza ainda avançaram em seus trabalhos e, num abrir e fechar de olhos, terminaram o que faltava para deixar pronta a nova edificação!

   Afinal chegou o dia previsto para a inauguração. O simbolismo da cerimônia que em breve ia começar consolava e comovia os fiéis, e em muitas fisionomias emocionadas rolavam algumas lágrimas, enquanto aguardavam a entrada do celebrante.

   Qual não foi a surpresa dos presentes quando, pouco antes de se iniciarem os ritos sagrados, viram entrar pelo fundo da igreja a inconfundível figura do rei. Vinha, entretanto, a pé, com um séquito muito reduzido e ar penitente. Tão arrependido estava de ter assinado aquele decreto da proibição, que decidira participar pessoalmente da primeira Missa na primeira igreja que fosse erigida em seus domínios. Queria dar o testemunho de sua fé, com fervor renovado. Ele pediu a palavra e disse:

   — Depois de ter proibido a construção de igrejas, não tive um instante de paz. Dia e noite ouvia como que vozes a me dizer: “Podem proibir a construção de igrejas de pedra, mas ninguém poderá nos impedir de continuar construindo e adornando a Igreja que está viva em nós!” Eram, sem dúvida, os Anjos ou talvez algum dos meus piedosos antepassados, recriminando minha atitude…

   Neste momento, um sorriso se delineou nos lábios de João, de Ana e das outras crianças: a missão que eles tinham encomendado a seus Anjos da Guarda havia sido cumprida da melhor forma possível! E todos puderam compreender como, de fato, somos pedras vivas da Igreja! (Revista Arautos do Evangelho, Junho/2017, n. 186, p. 46 à 47)

 
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