Estamos reunidos hoje, depois da solene celebração que ontem nos congregou na Praça de São Pedro.
A saudação cordial e fraterna que agora desejo dirigir-vos nasce daquela comunhão profunda que somente a Celebração Eucarística é capaz de criar.
Nela tornam-se visíveis, praticamente tangíveis, aqueles vínculos que nos unem enquanto membros do Colégio episcopal, reunidos com o Sucessor de Pedro. [...]
Ainda são numerosas as recordações que afloram à nossa mente, e que cada um tem bem gravadas no coração, daquele período tão vivo, rico e fecundo que foi o Concílio.
No entanto, não quero prolongar-me demasiado, mas – retomando alguns elementos da minha homilia de ontem – gostaria de recordar unicamente como uma palavra, lançada pelo Beato João XXIII, de modo quase programático, se repetia continuamente nos trabalhos conciliares: a palavra “atualização”.
“Atualização” não significa ruptura com a Tradição
Cinquenta anos depois da inauguração daquela Assembleia solene da Igreja, alguém se perguntará se aquela expressão não teria sido, talvez desde o início, não totalmente feliz.
Penso que sobre a escolha das palavras se poderia debater durante horas, encontrando-se pareceres continuamente discordantes, mas estou persuadido de que a intuição que o Beato João XXIII resumiu com esta palavra foi e ainda hoje é exata.
O Cristianismo não pode ser considerado como “algo do passado”, nem deve ser vivido com o olhar perenemente voltado “para trás”, porque Jesus Cristo é ontem, hoje e para toda a eternidade (cf. Hb 13, 8).
O Cristianismo é caracterizado pela presença do Deus eterno, que entrou no tempo e está presente em todos os tempos, para que cada tempo derive da sua potencialidade criadora, do seu “hoje” eterno.
Por isso, o Cristianismo é sempre novo. Nunca o podemos ver como uma árvore plenamente desenvolvida a partir do pequeno grão de mostarda evangélico, que cresceu, deu os seus frutos e, um certo dia, a sua energia vital envelhece e chega ao crepúsculo.
O Cristianismo é uma árvore que está, por assim dizer, em “aurora” perene, é sempre jovem.
E esta atualidade, esta “atualização” não significa ruptura com a Tradição, mas exprime a sua vitalidade contínua; não significa reduzir a Fé, submetendo-a à moda dos tempos, ao parâmetro do que nos agrada, àquilo que satisfaz a opinião pública.
Mas é o contrário: precisamente como fizeram os Padres conciliares, temos que elevar o “hoje” que nós vivemos à medida do acontecimento cristão, devemos elevar o “hoje” do nosso tempo ao “hoje” de Deus.
Todos na Igreja são chamados à santidade
O Concílio foi um tempo de graça em que o Espírito Santo nos ensinou que a Igreja, no seu caminho ao longo da História, deve falar sempre ao homem contemporâneo.
Mas isto só pode verificar-se mediante a força daqueles que estão profundamente arraigados em Deus, deixando-se orientar por Ele e vivendo com pureza a própria Fé; não deriva de quem se adapta ao momento passageiro, de quem escolhe o caminho mais fácil.
O Concílio sabia-o muito bem, quando na Constituição dogmática sobre a Igreja, a Lumen gentium, no número 49, afirmou que todos na Igreja são chamados à santidade segundo as palavras do Apóstolo Paulo: “Esta é, pois, a vontade de Deus: a vossa santificação” (I Tes 4, 3).
A santidade manifesta o verdadeiro semblante da Igreja, faz entrar o “hoje” eterno de Deus no “hoje” da nossa vida, no “hoje” da nossa época.
Caros Irmãos no Episcopado, a memória do passado é preciosa, mas nunca é um fim em si mesma.
O Ano da Fé, ao qual demos início ontem, sugere o melhor modo de recordar e comemorar o Concílio: concentrar-nos no cerne da sua mensagem, que de resto é apenas a mensagem da Fé em Cristo, único Salvador do mundo, proclamada ao homem do nosso tempo.
Também hoje o que é importante e essencial é levar o raio do amor de Deus ao coração e à vida de cada homem e de cada mulher, conduzindo a Deus os homens e as mulheres de todos os lugares e de todas as épocas.
Desejo intensamente que cada uma das Igrejas particulares encontre, na celebração deste Ano, a ocasião para a ida sempre necessária à nascente viva do Evangelho, ao encontro transformador com a pessoa de Jesus Cristo.